Para quem está acostumada a pintar empenas de prédio ou muros de grandes dimensões, colorir uma bicicleta pode significar um enorme desafio. E Mariê Balbinot topou ao aceitar nosso convite para desenhar as primeiras bicicletas da campanha #Walls2Wheels.
“Eu adorei o desafio e me identifiquei demais com o projeto. Eu pedalo e tenho sérias críticas ao carro. Também descobri o quanto a bicicleta trouxe autonomia para as mulheres, o que tem tudo a ver com a minha pesquisa”, diz ela.
Mariê, que nasceu no interior do Rio Grande do Sul, cresceu em Santa Catarina, onde começou sua jornada artística em 2010, e já morou em várias cidades do Brasil e do exterior, tendo um trabalho bastante político.
Ela defende causas como a igualdade de gênero. “Desde criança tenho questionamentos profundos em relação a igualdade de gênero. Me lembro, com nove anos de idade, de enfrentar a professora em sala de aula sobre essas questões”, lembra ela.
“Eu venho de um lar onde minha mãe sempre foi o elo mais forte e, acho que no Rio Grande do Sul, temos mesmo essa força retratada no livro A Casa das Sete Mulheres, de Letícia Wierzchowski. Não tinha como ser diferente!”
Suas personagens femininas, com olhos expressivos, pintadas com uma paleta de cores marcante são a principal característica de seu trabalho e já transformaram muros e empenas de construções em São Paulo, Rio de Janeiro, Xaxim (SC), Curitiba (PR), etc. além estar presente em países como França, Itália, Chile e Portugal.
Além dos murais, a artista já produziu quatro exposições individuais e participou de várias coletivas, além de festivais no Brasil e no exterior. Os últimos foram no ano passado: Festival Na Lata, em São Paulo, e Fenda, em Portugal.
O processo de transpor esse universo para o quadro de uma bicicleta, conta Mariê, foi parecido com a parede. “Eu fui direto para pintar na bicicleta, como faço nos murais, porque vale muito o instinto e o sentimento do momento. Só depois é que fui aprimorar no Ipad”, conta ela.
Adaptar a pincelada à superfície da bicicleta não foi das coisas mais fáceis, segundo ela. Além de a bicicleta ter dimensões 3D, a superfície é pequena e arredondada. “No quadro existem canos passando um por cima do outro, o que dificulta o apoio e a visão”.
Apesar das dimensões diferentes, Mariê achou pontos em comum entre os muros e a bicicleta. “O ponto principal dos meus murais é o impacto, a leitura rápida. Quem vê está em movimento, então precisa bater o olho e entender a mensagem”, explica. “No caso da bicicleta, é ela quem está em movimento e quem está parado também precisa ter essa leitura rápida.”
Por isso, Mariê optou por dar destaque à sua paleta de cores e também incluiu figuras como o Coelho, planta, nuvem, olho e a estrela. “Embora meu trabalho seja político, sou uma pessoa com sensibilidade espiritual. Algumas dessas figuras falam disso”, diz ela, ressaltando também a presença de texturas, como a de pele de vaca, para defender a ideia do veganismo.
Mariê garante que já pintou algumas coisas diferentes, mas que a bicicleta foi uma das mais desafiadoras e originais.